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Dos Duelos

Como bem sabeis, há momentos em que se faz necessário recorrer a um método honrado para solucionar disputas, corrigir afrontas ou, por vezes, simplesmente extravasar certas emoções indesejadas. Para tais ocasiões, nada se compara ao duelo! Sempre travado com armas brancas, evidentemente, pois o uso de armas de fogo é não apenas indigno, mas destituído de qualquer arte ou virtuosismo. Até mesmo um macaco marciano poderia disparar uma pistola!

Dos Desafios e Suas Razões

Conforme já exposto na seção referente à Etiqueta, há múltiplas razões que podem levar um cavalheiro ou dama a lançar um desafio. Ofensas à honra, insultos diversos e até mesmo questões financeiras, como sabiamente previu o ilustríssimo Barão em suas regras originais, são motivos legítimos para invocar o direito ao duelo.

 

Contudo, para que um desafio seja validado, faz-se imprescindível o respaldo de uma testemunha. A função desta é assegurar que o motivo do duelo seja legítimo, impedindo que membros mais exaltados duelem a cada instante, comprometendo o decoro e o andamento das reuniões.

 

Se, no entanto, um sócio lançar um desafio e nenhum outro aceitar ser sua testemunha, o desafio será ignorado e qualquer escárnio vindo dos presentes será considerado não apenas aceitável, mas encorajado. Recomendo, pessoalmente, que se façam comentários jocosos sobre a suposta habilidade do desafiante na arte da esgrima, acompanhados, como de costume, da tradicional chuva de pedaços de pão endurecido.

 

O duelo será oficializado quando o desafiado escolher sua própria testemunha e determinar os pormenores do embate. Uma vez aceito o desafio, não há mais retorno, e as lâminas farão o que as palavras não puderam resolver!

Das Regras do Combate e das Testemunhas

Os duelos podem ser disputados em um, dois ou, no máximo, três toques, pois qualquer prolongamento excessivo corre o risco de entediar os demais sócios, levando-os a atividades alternativas, como assediar as serviçais, promover rinhas de galo ou planejar invasões à França.

 

A escolha do número de toques cabe ao desafiado, que deverá depositar uma, duas ou três moedas sobre a mesa, gesto que deverá ser replicado pelo desafiante, oficializando assim o pacto de combate.

 

A vitória é determinada por toques válidos no torso ou nos braços. Golpes nas mãos e pernas são considerados inválidos, enquanto um golpe na cabeça concede automaticamente um toque ao adversário. Em caso de dúvida sobre a legitimidade de um toque ou sua exata localização, caberá às testemunhas decidir. Se estas não chegarem a um consenso, o sócio de posição social mais elevada, que não seja duelista nem testemunha, terá a palavra final.

Das Armas

O Barão, em sua inigualável perspicácia, registrou em seu tratado um método de duelo apropriado para covardes e estômagos frágeis, empregando o engenhoso jogo de Rocha-Faca-Papel, conhecido entre os portugueses como Garrafa-Copo-Garganta. Aqui, no entanto, prezamos a verdadeira arte da esgrima e deleitamo-nos com o espetáculo de um duelo digno de nossa nobre estirpe.

 

Por tal razão, utilizamos rapieiras de treino, as quais conferem ao duelo toda a destreza e beleza dos confrontos reais, sem os inconvenientes de sangue derramado. Afinal, os serviçais têm mais o que fazer do que limpar o chão após cada duelo, e preferimos que se dediquem a manter nossos copos devidamente abastecidos.

Dos Resultados

Diferentemente das regras originais do Barão, o perdedor de um duelo não entrega sua bolsa nem é afastado da reunião. Afinal, não nos reunimos para perdermos companheiros, mas para nos entretermos com narrativas grandiosas e disputas honradas!

 

O vencedor simplesmente recolhe as moedas utilizadas no desafio, todos retornam aos seus lugares e o convívio segue sem rancores ou ressentimentos. O duelo resolve a questão e o veredito está dado: a razão pertence ao vencedor e sobre tal assunto não se falará mais! Pelo menos, não até a próxima noite...

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